quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Monólogo de uma puta


Sou uma puta! E não olhem assim para mim, faz-me confusão que olhem para mim dessa maneira. Tenho 32 anos (hesita), 35 (fala para si mesma)… 40 anos!! (grita) Tenho 40 anos e sou uma puta. Não dá piada. Tenho 3 filhos, um marido e um irmão alcoólico a quem tenho de dar uma mesada para ele se andar a viciar. O meu marido trai-me com qualquer uma. Não pode ver uma puta à frente vai logo atrás dela. Parece doente por putas e eu tenho de levar com tudo em cima… literalmente!
Dão-me 200 euros por noite, nada mau para uma puta sem renome. Não me posso queixar. De dia sou desempregada à noite sou puta. Eu e tantas na minha situação. O meu marido não sabe mas há-de vir a saber um dia destes. Uma puta…
Tenho uma vida normal como todas as outras putas de lá. Como podem ver estou bem vestida e nem pareço uma puta. Quer dizer os sapatos deixam um pouco a desejar…
O meu Jorgito tem 3 anos e sou o ídolo dele. Ele sabe da minha dupla vida, é o único que sabe pois no primeiro ano ele ia comigo ao bar e lá ficava à espera com as outras putas. Vou parar de dizer a palavra puta porque desde que o espetáculo começou já a disse umas quantas vezes. Como estava a dizer o Jorgito ficava lá com as minhas amigas e camaradas de trabalho, ou seja, prostitutas qualificadas… prostitutas não! Mulheres decentes que se… Ora, com as putas! E eu lá ia fornicar este e o outro para ganhar algum. Tem sido assim desde os meus 30. Até aos 30 não era nenhuma puta, era uma rapariga normal com um trabalho normal. Mas a fábrica fechou e fiquei no desemprego. Agora sou a puta que todos estão a ver.
Acordo, levo os miúdos à escola e fico sozinha o dia todo no meu casarão. Não quero por nada ter de deixar a casa. Deu-me trabalho para ter dinheiro para a construção. Tenho uma boa vida quando não sou puta…
As vezes falo sozinha, dá-me para isto, às vezes nem vou trabalhar com medo. Receio de que o meu marido descubra. Às vezes sou eu a ficar em casa e ele a ir às putas. É tão normal isso acontecer. Uma vez encontrámo-nos ele ia às putas e lá estava eu. Tentei esconder-me atrás de um cadeirão e a sala parou. Tudo parou quando me escondi... Ele embriagado, não se lembrou no dia seguinte e ainda bem. Fui eu quem fez sexo com ele e foi ele que me pagou nessa noite. Quando cheguei a casa meti o dinheiro no nosso frasquinho. (o monólogo continua...)