terça-feira, 22 de dezembro de 2009


O temporal rebenta, neste momento, com violência, e um vento cortante e frio invade a sua pele de mansinho. As folhas estão carregadas com gotas de orvalho, a chuva cai fortemente sobre ele, as ruas estão destituídas, as árvores acham-se miseráveis, não se ouvem os pássaros a cantarolar, não se ouve o ruído dos carros, o seu mundo parece imóvel. Mas aviso já que nada do que parece é.
Ele tem aproximadamente 30 anos, carreira estável e uma família unida, quando em conjunto com a sua esposa decidem ter um filho.
Ao fim de um tempo vem a saber que a sua mulher está grávida de gémeos e quando esta dá à luz é ele quem os vê inicialmente. Depara então com um bebé magnífico, aos olhos dele, perfeito, e com uma menina diferente, uma menina com síndrome de Down. Sem pensar nas consequências entrega de imediato a sua filha a uma médica, para esta a levar para uma instituição, e comunica a morte dela à sua esposa.
Os anos foram passando e o segredo começou a consumir o homem, o arrependimento foi cada vez falando mais alto e deste modo ele teve a necessidade de ver a filha, de lhe tocar, de falar com ela. Começou então a procurá-la, até que certo dia, a viu ao longe. Pensou para si mesmo se seria “aquela” mas no fundo tinha a certeza que era. Quem tomava conta dela era a médica a quem ele a entregou. Era uma menina cheia de vida, com uns olhos lindos, mas sobretudo era uma menina feliz.
Em casa dele, a sua família estava desmoronada, ele sentia-se culpado e o seu filho era um infeliz. O seu filho queria ser cantor, mas ele nunca o iria permitir concretizar esse sonho, pois para ele não tinha cabimento nem futuro nenhum. A sua mulher, bonita e esbelta, não aguentava sentir o marido distante acabando deste modo por arranjar um amante.
Ele acaba por morrer e eu pergunto-me, será que fez a escolha certa?

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