quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Acendi uma vela (no meu coração) para ti, minha avó



Hoje, grito, choro, desespero. Não sei o que sinto, sei apenas que não me sinto. Não controlo as lágrimas e elas continuam a cair. Os meus olhos não dormem há vinte e quatro horas e pedem descanso, estão inchados e sem brilho. É uma dor tão grande que não consigo explicar.
Lembro-me da minha infância passada com ela. Ela contava-me histórias de princesas e de príncipes encantados e fábulas admiráveis com cavalos voadores, mulas sem cabeça, formigas gigantes e gatos apaixonados por cães.
Um dia escrevo a história dela. A história da vida dela. A história que ela me contou. Escrevo tudo o que sei. Escrevo por ela. Escrevo dela. Escrevo-a para ela.
Há cerca de seis anos, quando cheguei da escola, abri a porta de casa dela e entrei. Lembro-me perfeitamente. Lembro-me como se fosse hoje. Ela estava sentada no seu cadeirão a ver um programa na televisão, eu entrei mansamente, ela olhou para mim e disse-me:
-Catarina vinhas pregar-me um susto ou dar-me um beijinho?
Eu ri-me. Ela olhou de novo para mim e apontou para a televisão.
-Um dia vamos ali aquele sítio. Não queres?
Eu olhei para a televisão… era um programa que na altura dava, à tarde, na rtp1.
-Avó não podemos! Vamos como? – disse-lhe eu com um ar indefeso
Ela, intimamente, concordou comigo mas arranjou logo uma solução.
-Oh minha querida… vamos na mota do avô Luís.
Ambas sabíamos que não era possível, ambas sabíamos que era uma utopia mas eu acreditei.
-Avó Custódia gosto muito de ti.
-Eu sei querida.
-Vou perguntar ao avô se podemos levar a mota, qualquer dia, para irmos as duas à televisão pode ser?
Ela riu-se.
Eu ri-me.
-Queres uma história antes de lhe ires perguntar?
Ela lia-me os pensamentos e sabia perfeitamente o que queria, sabia os meus desejos.
-SIM! – exclamei eu com todo o entusiasmo do mundo.
E lá me contou ela mais uma das muitas histórias que ouvi, enquanto ela era viva.
Hoje, resta-me a história que um dia vou contar a quem quiser ouvir. A (verdadeira) história dela.
Hoje, choro por ela. Choro pela morte dela.
Sei que está bem agora, sem sofrimentos, sem desânimos que lhe escureçam a alma, sem amores nem desamores, sem histórias, sem nada. Apenas com a neta dela.


(Continuo contigo minha avó e nunca te vou esquecer, acendi uma vela (no meu coração) para ti)

5 comentários:

  1. Eu sei, mas às vezes trazem alguma esperança, alguma paz...
    Qualquer coisa que precises, dispoe.

    Beijo Salome (:

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  2. Não há palavras certas para os momentos errados acontecerem, mas há as palavras fáceis para os mais difíceis. E nao quero facilitar nada, nem tornar possível, mas dou-te a mão para que nao caias de vez. E se ajudar, melhor, porque ha sentimentos terriveis mas depende das pessoas que te amam ajudar-te a distrair deles. Eu quero, e vou tentar até que a alma me doa salomé.

    Beijinho **

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  3. Ontem à noite chorei muito, muito mesmo, porque pensei: não quero perder a minha avó, nunca. Agora, vim parar ao teu blog e imediatamente lágrimas escorreram-me no rosto. Tenho medo da dor que estás a sentir. É inevitável, mas não quero...
    Nada do que possa dizer vai ajudar-te, e provavelmente já estás cansada de ouvir, mas força, a tua Avó estará sempre contigo.

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  4. (não sei se enviei o comentário com a conta, ou em anónimo :$)

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  5. obrigada :)
    se precisares de alguma coisa, já sabes :D
    também gosto muito dos teus blogs, escreves muito bem!

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